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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ser Gremista, por Humberto Gessinger

Por: Thierry Rodrigues

“CALMA!! CALMA!!” é o técnico Valdir Espinosa à beira do gramado tentando fazer o time acreditar que falta pouco para o Grêmio ser campeão mundial interclubes. O tom da voz entrega: nem ele parece acreditar no que vê.

“CALMA!! CALMA!!” o grito absurdo da voz rouca parece dizer o contrário. Alguém que não entendesse português (os japoneses no estádio de Tóquio, por exemplo) poderia jurar que o significado das palavras urradas era outro: “PÂNICO!!PÂNICO!!”

Renato, um gaúcho que sonhava ser carioca, faz dois gols: somos campeões batendo o Hamburgo da Alemanha com a alma castelhana misturada a habilidosos pistoleiros de aluguel. Uma mistura impossível de Hugo De Leon e Paulo Cesar Caju. Geograficamente entre o tango e o samba.

O ano é 1983 e a década inicia promissora. Os anos setenta foram cruéis para o imortal tricolor: no lado de lá se via Figueroa, Falcão, Carpegiani, um céu vermelho sobre o Rio Guaiba. Eu deveria negar até a morte, mas a verdade é que, nos primeiros grenais que assisti, o empate parecia um grande negócio. Nova década, a gangorra do futebol gaúcho parecia estar mudando de posição.

“CALMA!! CALMA, PORRA!! Talvez forma e conteúdo nunca tenham estado tão afastados. Assim como nada pode estar mais distante do ufanismo de um hino do que a dor de cotovelo de um samba-canção. E foi justamente Lupicínio Rodrigues quem prometeu “Até a pé nós iremos / para o que der e vier / pois o certo é que nós estaremos / com o Grêmio onde o Grêmio estiver”

Nosso hino sempre me pareceu mais a promessa de um amante fazendo a ronda nos bares do que o juramento de um guerreiro. Mas é como guerreiros praticantes de um futebol rugby que somos vistos pelo resto do Brasil.

Longe demais das capitais, nunca fomos importantes para a seleção brasileira. Ganhamos campeonatos nacionais e Libertadores da América sem ter jogadores convocados. Em 1970, no México, tínhamos Everaldo… reza a lenda que ele só foi titular por que alguém tremeu. Eu tinha 6 anos e fui ao aeroporto vê-lo chegar com a taça Jules Rimet. Para nós a seleção era ele mais dez.

Ser gremista significa qualquer coisa menos tédio… é gritar desesperadamente: CALMA!!… é comer o mingau quente pelas bordas e saber que, no bom churrasco, a melhor carne está perto do osso. Nosso time faz milagres, mas quase sempre prefere os caminhos mais tortuosos.

Jogar o gauchão no inverno não é nada parecido com futivôlei em Ipanema. Me lembro de um jogo à noite na serra gaúcha (Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias… não sei) disputado com neve caindo. Nossa camisa já é bonita contra o verde; sobre o branco, o azul-preto-branco ficou mais blues-samba-canção.

Torcer pelo imortal tricolor dos pampas é ter certeza de que nada é certo. É ir para a Segunda divisão pouco depois de ser campeão do mundo… é voltar a disputar o título mundial e engrossar um jogo tido como ganho pelo Ajax da Holanda… é ganhar uma copa do Brasil do Flamengo num maracanã lotado… é perder uma copa do Brasil para o Corínthians no Estádio Olímpico e cantar o hino com orgulho ao final do jogo…

Aqui na ponta do mapa a gente não sabe muito bem o que é ser gaúcho… ser gremista é parecido com isto. É chamar de Felipão quem os paulistas chamam Scolari… é começar o time com um bom zagueiro… o número 10 a gente vê depois.

No fim de um show que fizemos num Morumbi lotado, agradeci: “Valeu pessoal, foi um prazer tocar em frente à goleira onde Baltazar fez o golaço contra o São Paulo que nos deu o título brasileiro de 1981!” Recebi a maior e melhor vaia da minha vida.

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